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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Marco Ubaldo

Infelizmente, mais uma perda marca o ano de 2012 no skate brasileiro. Marco Ubaldo faleceu no sábado, aos 43 anos, após algum tempo de luta contra um câncer. Marquinho, como era conhecido enquanto rasgava as ladeiras sempre na velocidade máxima, era desenhista gráfico Descanse em paz, Marquinho. MARCO UBALDO Por Marcelo Viegas O foco na evolução faz parte da vida de Marco Aurélio Nogueira Ubaldo, assim como o skate. Vinte e três anos em cima do carrinho. Influenciado pelas artes dos shapes antigos, Marquinho arriscou seus primeiros traços no começo dos anos noventa, e em 1998 já trabalhava como ilustrador. Hoje, aos 39 anos e com a cabeça borbulhando de idéias, é diretor de arte da MCD. Conheça melhor a história de Marco Ubaldo nessa entrevista exclusiva Você começou a andar de skate em 85, numa fase anterior a explosão de 87/88. Como conheceu o skate? Quando eu tinha uns 14 anos meu pai me deu um skate Bandeirantes de Natal. Eu tinha uns amigos que curtiam andar de bike, outros pegavam onda, e fui me envolvendo com tudo que ia rolando. Me identifiquei forte com a adrenalina das músicas, comportamento, estilo, liberdade, enfim, todo o universo que envolve esse tipo de vida, mas não levava nada a serio... Algum tempo depois, caí e quebrei o tornozelo. Fiquei puto, nunca havia quebrado nada, mas foi ali que saquei qual era diferença de “curtir skate” e de “viver o skate de verdade”. Não tive dúvida: parei com tudo, bike, surf, e montei um skate novo. Desde então não parei mais e já se vão bons vinte e poucos anos de skate. Qual seu pico preferido? Eu sempre andei em vários picos, mas tem um em especial que andei e ando até hoje: a boa e velha Praça Roosevelt, onde ganhei um apelido que só existiu lá, “Popeye”! Isso mesmo, o marinheiro do desenho animado! (risos) Quando começou a andar de longboard? O início dos anos 90, logo depois da queda do presidente Collor, foi uma fase punk. Eu tinha perdido os patrocínios, e como dedicava a maior parte do tempo ao skate, não trabalhava nessa época... Fiquei totalmente sem horizonte e sem grana. Bateu um desespero, e pra ludibriar a situação eu ficava andando de skate e surfando, pra desencanar do que estava rolando. Foi aí que comecei a dar início aos desenhos, pra tentar entrar no mercado como ilustrador. A idéia era trabalhar no mercado que eu curtia, e me manter andando de skate. Como eu andava muito nas paredes da Roosevelt, nas ladeiras e na antiga pista da ZN, achei que seria bacana misturar as bases “surf e skate”. Peguei um shape de longboard que tinha ganhado em um campeonato de ladeira, montei e fui direto ao rolê, pra ver qual era a parada. Descobri uma nova forma de andar de skate e fui me adaptando a andar em todos os terrenos com o long. Meu primeiro campeonato como longboarder foi no Pico do Jaraguá, em 97. Terminei em segundo lugar, com o Yuppie em primeiro. Saí com um patrô novo e com viagens marcadas para fazer sessões em vários picos. Foi um grande recomeço no skate e uma nova fase em minha vida. O grande estímulo pra você começar a desenhar veio das artes de shapes/anúncios/camisetas de skate dos anos oitenta e começo dos noventa? Lembro que quando vi os desenhos nos shapes e camisetas, percebi que tinha alguma coisa diferente, mas não entendia muito bem o que era. Só fui sacar depois de um bom tempo, comecei a ver a ligação das artes e do comportamento nos filmes. Vi que não se tratava apenas de desenhos comerciais para vender o produto, mas que tinham uma interpretação direta retratando toda a “drena” das sessões, as aventuras de sair para andar de skate, e um puta toque de delírio pessoal de cada artista. Quem são os artistas que te influenciaram? Tive influência de artistas como Jim Phillips, Rick Griffin e Robert Williams, pela linguagem e traço; Pollock pela expressão natural e o abstrato em suas pinturas; Frank Frazetta pelo surrealismo; Escher pela complexidade e pelo efeito de infinito nos trabalhos; Basquiat pela forma simples e com uma arte extremamente marginal, no bom sentido; e David Carson pela forma de tratar e combinar as imagens, textos e símbolos numa linguagem gráfica. Conte a história do seu primeiro trampo... O meu primeiro trabalho foi em uma marca chamada “Imagem”. Por “acaso” fui morar umas duas quadras da fábrica, e sempre ia lá mostrar os meus desenhos. Sempre no final da tarde, pois pegava os caras na saída, meio “por acaso”, se é que me entende (risos). E sempre levava um não, “os desenhos ainda não estão bons”, era o que eles diziam. Acabou virando algo pessoal, como um desafio. Voltava pra casa e tentava melhorar os trabalhos... E nada! Mas de tanto persistir e acreditar que daria certo, fui melhorando os meus desenhos, até que um belo dia eles compraram dois desenhos. Nossa, fui ao delírio! Acabara de vender os meus primeiros desenhos! Não sei se compraram porque gostaram ou de tanto que enchi o saco, mas sei que logo depois fui convidado para desenhar uma coleção, e antes de terminar os trabalhos já estava contratado pela marca. Depois disso, já trabalhando como ilustrador para algumas marcas de skate e de surf, percebi que não só estava vivendo do skate e da arte, mas tinha também encontrado um equilíbrio e um modo de viver, no qual eu acreditava, onde tudo tem uma ligação. A arte não é apenas uma maneira de ter a minha independência financeira, e de dar condições a continuar andando de skate, mas a forma mais pura de traduzir toda as emoções e adrenalina que sinto, com uma linguagem abstrata ou figurativa, nos shapes da galera, nas camisetas das marcas, e em várias outras formas de suporte gráfico. Hoje você é diretor de arte da MCD. Fale um pouco da sua trajetória na marca. Iniciei meu trabalho com a MCD por volta de 98, como ilustrador freela. Tinha uma participação na coleção junto com outros desenhistas, só que fui cada vez mais me identificando com a linha de comportamento da marca e investindo muito do meu tempo para poder ganhar espaço na empresa. Em 2001 a empresa trouxe a Lost, e me convidaram para trabalhar como designer da marca. Aceitei, mas continuei fazendo os desenhos das estampas para a MCD, coleção a coleção, já que são da mesma empresa, e era com a MCD que eu realmente queria trabalhar como designer, mas ainda não tinha tanta bagagem para encarar a comunicação da marca. Logo depois veio a Globe, e acabei trabalhando com as duas ao mesmo tempo, Lost e Globe, e sempre nos freelas das estampas da MCD. Tudo isso levou uns três anos, e quando a MCD começou um processo de transformação total da marca, foi aí que, enfim, comecei a ganhar um espaço maior. Como eu já desenhava as estampas e tinha passado por todo um amadurecimento com a Lost e a Globe, foi natural me adaptar com o trabalho na comunicação da MCD. A cada coleção eu tinha mais desafios, e com isso o meu trabalho também foi mudando, ganhando uma nova linguagem. Passei a me envolver com todo o processo de criação e de exposição, com material de ponto de venda, vitrines, anúncios, catálogos, etc... Além disso, têm seus freelances também... Fora a MCD tenho feito algumas artes para shapes de amigos e afins (Bruno Zóio, Douglinhas, JM, Mario Neto e Pablo Groll), tenho participado de alguns projetos e exposições, em resumo, vivo do que criei e acreditei para mim. E o melhor: ainda ando de skate e pego umas ondas por aí. Mas nada é fácil e nunca foi... A grande graça de tudo está bem aí, na conquista do que se quer e acredita! Realmente agradeço a Deus por ter permitido um dia colocar os meus pés em uma tábua com rodinhas, isso mudou a minha vida. Ou melhor, formou a minha vida. {Entrevista originalmente publicada na ed. 124 da revista CemporcentoSKATE, de 2008. Essa edição trazia como brinde o adesivo criado pelo Marco Ubaldo}

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