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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Quem usa a cabeça, usa capacete.

Chupado do Blog Skateboarding Militant
Autor Guto Jimenez




É incrível como alguns temas conseguem ser recorrentes no meio do skate, mesmo com o passar dos anos e com toda a informação disponível da forma mais variada possível. O uso dos capacetes, por exemplo, parece ser um desses que jamais saem de pauta. Vira e mexe, é preciso que alguém toque no assunto pra lembrar da importância desse equipamento de segurança vital pra vida dos skatistas.


Infelizmente, chegou a minha vez de abordar o tema. Digo "infelizmente" porque alguns incidentes ocorridos nos últimos dias praticamente forçaram a abordagem da questão, por menos que eu quisesse e por mais inútil que possa parecer. Insistir no uso de capacetes em pleno 2012 pode parecer algo do tipo "enxugar gelo", mas eu não me importo; é algo que precisa ser conversado, debatido e definitivamente incluído nas cabeças dos skatistas das mais variadas modalidades.


No apagar das luzes de 2011, um garoto de apenas 15 anos morreu no Rio em decorrência de uma queda numa ladeira. Ele bateu a cabeça no meio-fio e ficou inconsciente, e mesmo com o pronto atendimento médico que lhe foi prestado, nada pôde ser feito pra que essa tragédia pudesse ter sido evitada. A comunidade de skate de ladeira da cidade entrou em luto e mostrou solidariedade à família do jovem, através de depoimentos emocionados nas redes sociais.


Nada disso apagará o sentimento de perda dessa família, pra qual 2012 será marcado pra sempre como o ano do fim do mundo pra eles.


Uma semana depois, quase que o mesmo incidente ocorreu de novo, só que dessa vez em São Paulo. Outro skatista (dessa vez um trintão) sofreu o que chamaram de uma "queda boba" num dos picos mais estilosos e suaves do país, batendo a cabeça no chão e sendo acometido de convulsões. Não fosse o pronto atendimento prestado no local, e a presença de um médico nas proximidades, e talvez outro incidente lamentável tivesse ocorrido em tão pouco tempo.


No passado, alguns outros incidentes marcaram seus protagonistas (e até o próprio cenário) de maneira definitiva:


- No início dos anos 90, o cenário de skate carioca perdeu um dos streeteiros mais atirados e considerados quando o Léo da Ilha caiu após tentar varar um gap num estacionamento de supermercado na Ilha do Governador. Ele era o tipo de cara que andava de skate como se fosse o último dia na Terra e, ao mesmo tempo, era de uma simpatia e alto astral contagiantes. Após a queda, ele passou alguns dias em coma e veio a nos deixar de maneira precoce, deixando o cenário da cidade em luto.


- Já nesse século, o mesmo bairro viu mais um acidente lamentável quando Henrique Perck não segurou um slide e caiu, quebrando o cotovelo e batendo a cabeça no chão. Após muita luta por sua própria vida, ele sobreviveu mas ficou com sequelas físicas e neurológicas irreversíveis. Os planos de se tornar designer gráfico tiveram de ser adiados pra sempre, tudo por causa de uma "maldita pedrinha".


Você já deve ter ouvido falar em outros casos similares, de gente que caiu e se machucou feio por não ter usado capacete. Eu mesmo já rachei um capacete Pro Tec quase novinho numa queda no bowl do Rio Sul, e inutilizei um outro da mesma marca após um capote numa ladeira que me deixou tonto por alguns minutos. A dor de cabeça que me acompanhou por 2 ou 3 dias foi até celebrada, pois eu sabia o que poderia ter acontecido caso não tivesse me protegido de maneira apropriada.


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O caso que mais me impressionou nos últimos tempos aconteceu lá fora. Ernie Saiz é um skatista de 33 anos que levou uma queda durante uma sessão com uns amigos em agosto de 2011, e foi parar no hospital inconsciente. Sinta só o drama que ele passou, através de alguns trechos do relato dele à Silverfish Longboarding:


"Eu caí sobre a minha cabeça, batendo a cintura e o coccix, e fraturei esses ossos e o crânio. Fui levado imediatamente a um hospital, onde tiveram de me ressussitar por duas vezes. Um neurologista foi chamado pra retirar cerca de 50% do meu crânio devido ao inchaço cerebral dentro da caixa craniana. Depois disso, passei três semanas em coma."



"O meu caso é um daqueles milagres que acontecem. Eu era pra estar ou morto ou com graves sequelas neurológicas. No hospital, vi pessoas que sofreram o mesmo tipo de queda nunca mais conseguirem ser as mesmas de novo, ou então serem obrigadas a estar em tratamento por 5 anos".


"Antes do acidente, eu nunca usava um capacete a não ser que fosse obrigado a isso. Eu achava que eu era maneiro demais pra usar um desses... e aprendi da pior maneira. Eu estou recuperando os meus estados físico e mental, e portanto tive o skate tirado de mim. Eu amo andar de skate, e tive isso tirado de mim (mesmo que por algum tempo) só porque eu não estava pensando da maneira correta".




"Minha vida mudou radicalmente depois do acidente; quando voltei a trabalhar, tive de usar um capacete pra proteger a caixa craniana que tinha sido aberta pela cirurgia. Fiz questão de mostrar a todos que eu não estava usando pra ser engraçado, mas sim por necessidade. (...) A partir de então, passei a fazer questão de incentivar crianças e adolescentes a usarem capacetes, e uso a minha história como exemplo do que não deve ser feito".



Historia origina aqui
http://www.silverfishlongboarding.com




É hora de se tomar uma providência, urgente.


Não se deixe enganar: TODOS os envolvidos no cenário de skate têm alguma parcela de responsabilidade quando um skatista cai e sofre alguma consequência por ter batido a cabeça.


* Os organizadores de eventos são responsáveis quando não exigem o uso do capacete por seus competidores, ou quando permitem que sejam usados de qualquer jeito, ou seja, sem apertar a tira da jugular de maneira correta. Eu particularmente acho um ABSURDO que o uso de capacete não seja obrigatório em todos os eventos promovidos pela CBSk, que deveria ser a primeira a dar o exemplo como entidade organizadora de competições e rankings de alcance nacional. Pior ainda quando algum desses eventos é referendado pela WCS, mostrando que o descaso não é um problema localizado em nosso país.


* A mídia é responsável quando produz e divulga fotos e filmes de skatistas se atirando sem usar capacete, não importa qual modalidade que seja. Já ouvi tantas explicações furadas que nem vale a pena repetí-las por aqui - e nenhuma delas é forte o suficiente pra justificar quando alguém sofre qualquer tipo de consequência danosa. Dizem que é "impossível" porque o mercado não aceita... sem comentários.


* O mercado é responsável quando manda publicar peças de publicidade onde o uso de capacete é desprezado. Já houve uma marca de street (felizmente já extinta) que chegou ao absurdo de incluir uma cena na qual alguns membros de sua equipe urinavam dentro de um capacete, e diziam que "não servia nem como penico"... Patético e lamentável.


* Os skatistas profissionais também são responsáveis. Como ídolos, têm que ter a consciência de seu papel perante seus fãs, que muitas vezes os copiam em tudo, da roupa e tênis que usam até o fato de não usarem capacetes. Isso não deveria ser nenhuma novidade afinal, já que muitos deles passam a profissionais simplesmente por terem tido uma parte boa no vídeo da moda...



E possível mudar? Sim, claro. É fácil? De forma alguma, e exige comprometimento integral à causa, sem vacilar em nenhum momento. Um exemplo é a Concrete Wave, que não costuma publicar anúncios nos quais os skatistas aparecem andando sem capacete. Nenhum competidor que entre numa prova oficial de speed, slalom ou push race sequer sonha em comparecer se não tiver levado seu capacete, e ponto final. Além disso, o uso é obrigatório em quase todas as pistas de skate públicas que são gerenciadas pelas prefeituras das cidades onde são localizadas.


Portanto, é uma questão de querer - e FAZER, principalmente.


Não interessa o que os outros digam, o que aparece nos vídeos ou na internet. Se você cair do skate e bater a cabeça, pode parar no hospital ou no cemitério. Simples assim.


Não seja idiota: quem usa a cabeça, usa capacete.



FOTOS: Internet e Dan McCashin, da SilverfishLongboarding.com


Posted by Guto Jimenez
Labels: Andar de skate, Reflexão e debate

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